quarta-feira, 16 de março de 2016

Há 25 Anos, Senna Dava "Troco" Em Prost e Se Tornava Bicampeão Da F-1

21/10/2015 04h00 - Atualizado em 21/10/2015 10h45

Com controversa batida logo na primeira curva do GP do Japão de 90, piloto brasileiro
"deu o troco" no rival francês por mágoa guardada do desfecho da temporada anterior

Por Túlio Moreira
Rio de Janeiro
Globo Esporte - globoesporte.globo.com

O circuito de Suzuka, a cerca de 300km de Tóquio, foi um dos lugares mais marcantes da carreira de Ayrton Senna. Foi no circuito japonês que o piloto da McLaren ganhou seus três títulos mundiais, em 1988, 1990 e 1991. A conquista do segundo deles, no dia 21 de outubro de 1990, completa 25 anos nesta quarta-feira e se mantém até hoje como um dos episódios mais polêmicos da história da Fórmula 1. Em um dos momentos mais controversos de sua carreira, Senna forçou um acidente envolvendo a Ferrari do arquirrival Alain Prost logo na primeira curva e acabou com as chances de o francês conquistar o título. O brasileiro “deu o troco” em uma manobra de circunstâncias semelhantes feita pelo adversário na igualmente polêmica decisão da temporada anterior, também ocorrida em Suzuka, quando ainda eram companheiros na McLaren.


Em 1990, Suzuka foi palco do famoso 'troco' de Ayrton em Prost, que garantiu o título para o brasileiro (Foto: Getty Images)

O acidente lançou questionamentos da imprensa e de alguns torcedores sobre a ética de Senna na Fórmula 1. Mas o episódio também foi visto como uma forma de “desabafo” encontrada pelo brasileiro, que se sentia perseguido pelo homem mais poderoso da categoria à época, Jean-Marie Balestre, presidente da extinta FISA, que era a entidade responsável por organizar os eventos de automobilismo.

Senna e Prost já haviam interrompido o convívio amistoso que marcou o primeiro ano da parceria e estavam em pé de guerra na reta final da temporada 1989. No GP do Japão, o francês provocou uma batida no brasileiro para garantir seu terceiro título. Senna pediu para que os fiscais empurrassem o carro, parou nos boxes, trocou o bico e conseguiu voltar para a pista para vencer a corrida, mas o francês recorreu a Balestre para desclassificar o rival e assegurar o campeonato.

A rivalidade chegou a níveis extremos após a polêmica decisão de 1989. A situação de Prost ficou insustentável na McLaren, que manteve Senna e contratou o austríaco Gerhard Berger, enquanto o francês rumava para a Ferrari. Inconformado com o título perdido, o brasileiro disparou duras críticas às atitudes de Balestre, que exigiu um pedido de desculpas público para que o piloto pudesse obter a superlicença para disputar o campeonato de 1990. Convicto da parcialidade do dirigente, Senna se recusou a fazer a retratação até o último momento, quando a McLaren enfim distribuiu um comunicado assinado por ele. Em 1991, Senna revelou que o pedido de desculpas não havia sido redigido com seu consentimento.

Todo o impasse envolvendo Prost e Balestre se tornou fonte de uma grande mágoa para Senna, que se sentia injustiçado. A chance de extravasar a raiva veio na etapa japonesa de 1990. Prost precisava vencer para conquistar o título. A direção da prova negou a Senna, pole position, o direito de largar do lado esquerdo, o mais limpo e emborrachado da pista. Prost, segundo colocado no grid, largou pelo lado de fora, enquanto Senna seria prejudicado pela sujeira do lado interno da pista. E o brasileiro, a cerca de 250 km/h, simplesmente não freou para a primeira curva, como revelaria a telemetria. O campeonato estava decidido, com Ayrton bicampeão mundial.


Ayrton Senna Alain Prost Suzuka GP do Japão 1990 (Foto: Getty Images)
Prost disse que, após acidente, sua vontade era "pegar o capacete e acertar na cabeça" de Senna (Foto: Getty Images)

Os dois carros foram parar na caixa de brita da área de escape, e os pilotos escaparam sem ferimentos. Autor do livro "Ayrton, o herói revelado", o escritor Ernesto Rodrigues descreve com riqueza de detalhes o acidente. Prost ficou furioso com a atitude de Senna e disse que, ao sair do carro, sua vontade era "pegar o capacete e acertar na cabeça dele". O francês estava convicto de que Ayrton havia provocado o acidente de forma deliberada. Em uma entrevista naquele dia, Senna dedicou o título "a todos aqueles que lutaram contra mim no ano passado e me machucaram muito”. O brasileiro ainda provocou: “Este ano, está aí a demonstração para eles de quem é o campeão".

Corrida marcou também a última dobradinha brasileira na Fórmula 1

A corrida foi vencida por Nelson Piquet, da Benetton, que foi seguido pelo amigo Roberto "Pupo" Moreno, que disputou a prova no lugar de Alessandro Nannini, que sofrera um acidente de helicóptero. Foi a última dobradinha brasileira na F-1 até hoje. Mas o protagonista da etapa japonesa foi mesmo Senna. O piloto da McLaren recebeu muitas críticas de jornalistas especializados, mas ficou especialmente incomodado com os comentários do tricampeão Jackie Stewart, um dos mais atuantes na busca por melhorias nas condições de segurança da Fórmula 1. O veterano escocês condenou a manobra de Senna e chegou a dizer que o brasileiro não tinha "ética nem humanidade". Ao tomar conhecimento dos comentários, Senna respondeu que "piloto gente não ganha campeonatos ou títulos. Você tem de ser agressivo".


Nelson Piquet e Roberto Pupo Moreno na última dobradinha brasileira da F-1, no GP do Japão de 1990 (Foto: Reprodução)
Nelson Piquet e Roberto Pupo Moreno na última dobradinha brasileira da F-1 (Foto: Reprodução)

Muitos anos mais tarde, Prost descreveu o que ocorreu no GP do Japão de 90 como o pior momento de sua relação com Senna. “Eu perdi o campeonato na largada e o fato de ter feito e reconhecido no ano seguinte que aquilo foi de propósito. Eu sabia que foi de propósito, mas ouvir aquilo foi muito difícil para mim”, disse o francês, que só concretizaria o sonho do tetracampeonato em 1993, pela Williams.


No auge da rivalidade, Senna e Prost se chocam no GP de Suzuka de 1989 (Foto: Getty Images)
Um ano antes, ainda na McLaren, Prost provocou acidente com Senna no mesmo circuito de Suzuka (Foto: Getty Images)

Nas pistas, o circuito de Suzuka voltou a cruzar a história de Senna na conquista de seu tricampeonato, em 1991. Naquela temporada, o brasileiro precisou conter o poderio da Williams de Nigel Mansell e conseguiu explorar ao máximo sua McLaren para chegar ao GP do Japão, penúltima etapa, com uma boa margem de pontos. Com 16 a mais que o rival inglês, Ayrton precisou apenas do segundo lugar para garantir o terceiro título. Por causa da ampla vantagem, a McLaren solicitou que Senna, a contragosto, cedesse a vitória para o companheiro Gerhard Berger.

A rivalidade entre Senna e Prost permaneceria nos anos seguintes. Mas, no encerramento da temporada de 1993, que teve o francês enfim conquistando seu quarto título e Senna como vice-campeão, um cumprimento entre os eternos rivais no pódio do GP da Austrália mostrou que os ressentimentos haviam sido superados. Em Adelaide, a relação mais explosiva do automobilismo mundial finalmente ganhava um desfecho amigável.

Quando a carreira de Ayrton foi interrompida de forma precoce, no fatídico GP de San Marino de 1994, a relação entre os dois já era de amizade e confiança. O brasileiro passou a telefonar para Prost com frequência, e os dois trocavam confidências e impressões sobre os novos rumos da F-1. Pouco antes da largada em Ímola, o brasileiro, pole position, mencionou o antigo adversário em uma mensagem de rádio para uma emissora de TV francesa, que tinha o tetracampeão como comentarista para aquela corrida: “Um alô especial para nosso querido amigo Alain. Nós sentimos sua falta, Alain”. Prost, por sua vez, ficou muito abalado com o acidente fatal do rival das pistas e esteve presente no enterro do brasileiro, em São Paulo.


Alain Prost e Ayrton Senna fazem as pazes no GP da Austrália de 1993 (Foto: Getty Images)


FONTE PESQUISADA

MOREIRA, Túlio. Há 25 anos, Senna dava "troco" em Prost e se tornava bicampeão da F-1. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2015/10/ha-25-anos-senna-dava-troco-em-prost-e-se-tornava-bicampeao-da-f-1.html>. Acesso em: 16 de março 2016.


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